Mas, ao contrário do terceiro romance de Stephanie Meyer, vamos diretor ao ponto. Para Bella - Kristen Stewart com testa menos franzida em sua melhor aparição na saga - as opções são duas, bem distintas: Edward representa o amor idealizado; tudo que é ligado a ele é bucólico, sentimental e doloroso. Robert Pattinson, com sua expressão apática e sua aparência asséptica (a maquiagem melhorou, verdade), ajuda a definir o personagem em meio a campos de flores e diálogos saídos daqueles romances femininos de banca de jornal ("Julia", "Sabrina" e "Bianca", lembram?).

Seu contraponto está mais claro. Agora Jacob - Taylor Lautner demonstrando toda sua herança cênica conquistada em As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl, representa a carne, o macho alfa, aquele que aquece, protege e beija sem avisar e que, no fundo, no fundo, toda mocinha também sonha em encontrar. Bella, coitada, se viu numa cilada: acreditar num amor literalmente eterno ou se entregar aos prazeres da carne? Pois bem, é aí que o diretor David Slade tem uma bela sacada: levar a cabo este threesome clássico num jogo de piadinhas e trocadilhos que funcionam bem melhor do que colocar os dois rivais num duelo.

Esse triângulo garante algumas frases geniais como "ele não tem mesmo uma camisa?" ou "eu sou mais quente que você", que assumem a brincadeira adolescente, fazendo com que o filme goze de si mesmo, e compensam os momentos piegas e moralistas espalhados ao longo do filme, que quase serve como prequel de Sex and the City 2 como ode ao casamento. O curioso as cenas sentimentais do início deEclipse, como a conversa entre Edward e Bella no campo e o encontro da protagonista com a mãe foram dirigidos com uma delicadeza inédita à série. E chegavam a prometer um filme bom.

Se Eclipse não chegar a tanto, um grande trunfo ele tem: é anos-luz melhor do que o fiasco chamado Lua Nova, um desacerto completo. Mesmo assim, os flashbacks com as origens dos personagens, com direito a Catalina Sandino Moreno, parecem desnecessários. E é uma pena que Bryan Dallas Howard, ótima escolha para assumir o papel de Victoria (embora seu visual seja de irmã gêmea da Viúva Negra de Scarlett Johansson), tenha uma participação tão pequena. Sua cena de ação é bem divertida, assim como a ótima sequência que abre, meio que de surpresa, o filme - eu achei que era um trailer até ver o título aparecer na tela, vejam só! No geral, os efeitos visuais estão menos toscos que os do filme anterior, mas qualquer cena dos Volturi, sobretudo de Dakota Fanning, é vergonhosa.

Ainda bem que Eclipse é só mais um filme sobre o tesão adolescente, com direito a um diálogo engraçadinho entre Bella e o pai sobre camisinhas e afins e até a uma troca de afagos verbais entre Edward e Jacob, recheada com um subtexto gay. O grande mérito nesses momentos é que o filme ri de sua própria condição e aí fica mais autêntico, genuíno até. Mesmo com seu moralismo datado, que aqui é rebatizado de "old school", o filme termina bem mais interessante do que se poderia imaginar: tem até uma homenagem explícita a George A. Romero! Tomara que a Bella, safada como nunca, finalmente consiga saciar suas vontades no próximo capítulo.

A Saga Crepúsculo: Eclipse 

The Twilight Saga: Eclipse, David Slade, 2010

P.S.: se depender da minha sessão, Eclipse vai ser um fiasco como fenômeno da cultura pop. Consegui comprar o ingresso 40 minutos antes de entrar no cinema na noite de estreia do filme! E mais: passou o trailer de The Runaways, que a Paris Filmes genialmente vendeu como "as garotas de A Saga Crepúsculo: Eclipse com as bad girls que bombaram no cenário musical".